Ela foi além dos limites impostos pela sociedade, além dos estereótipos, além do que se esperava dela. Filha de uma ex-escrava, lutou contra o analfabetismo e entendeu que sua missão era educar, militar politicamente e denunciar as injustiças sociais.
Bem-vinda! Bem-vindo ao Podcast Heroínas do Brasil. Vamos relembrar a trajetória de brasileiras notáveis que ajudaram a derrubar barreiras, romper paradigmas e reinventar o papel da mulher na sociedade.
Como Antonieta de Barros, a heroína de hoje, que rompeu vários estereótipos ligados ao gênero, à etnia e à classe social pra se tornar a primeira deputada estadual negra do país e a primeira deputada mulher do Estado de Santa Catarina.
Só que isso aconteceu num tempo muito diferente do atual. Não tinha rede social pra protestar, ou vídeo pra denunciar injustiças, nem um batalhão de desconhecidos pra apoiar você ou sua causa.
Era sozinha. Era na unha. Era na atitude. E não era pra qualquer uma.
Vamos conhecer então a história da Professora da Ilha: Antonieta de Barros nasceu em Florianópolis em 1901, numa família humilde. Órfã de pai desde criança, foi criada pela mãe, uma escrava liberta, que lavava roupas e trabalhava como doméstica em casas como a da família do ex-presidente da república Nereu Ramos.
Aos 21 anos, Antonieta se formou professora na Escola Normal Catarinense. Ela acreditava que o analfabetismo impedia “gente de ser gente”. Pra concretizar o sonho de educar a população menos favorecida, ela fundou o Curso Particular Antonieta de Barros, em sua própria casa, que não era nenhum palacete.
Educar era sua missão de vida. Antonieta foi professora e diretora de vários colégios tradicionais de Florianópolis. Contribuiu com seu senso de justiça, humanismo e carisma pra formar centenas de jovens.
E sempre defendia os direitos dos professores. Acredite você ou não, por volta dos anos de 1930 as professoras da rede pública eram proibidas de casar porque se aparecessem de barrigão de grávida na sala de aula poderiam despertar perguntas incômodas dos alunos. E coisas assim…
Em 1934, Antonieta foi eleita deputada estadual pelo Partido Liberal Catarinense. Um feito e tanto naqueles tempos onde não havia mulheres, muito menos negras, em tais posições. Isso aconteceu apenas dois anos após as mulheres conquistarem o direito ao voto no Brasil. Em 1947 ela foi eleita novamente como suplente.
Antonieta usava a militância política pra defender a valorização do magistério e o acesso dos mais carentes à educação.
E fez muito mais. Com o pseudônimo de Maria da Ilha, escreveu pra jornais e revistas sobre as injustiças sociais e a favor dos direitos civis das mulheres.
Publicou um livro: Farrapos de Ideias.
Antonieta nunca se casou. Ela viveu até os 51 anos. Na capital catarinense ela é lembrada em nome de rua, de um túnel, de escolas e num memorial.
Todos os anos as mulheres que prestam serviços relevantes ao Estado de Santa Catarina recebem a medalha Antonieta de Barros.
Eu confesso que me emocionei quando vi um enorme grafiti em homenagem a ela no centro de Floripa.
Que bela trajetória de vida, não é mesmo?
Saiba mais
*O documentário Antonieta, da cineasta Flavia Person, lançado em 2016, resgata a história de Antonieta de Barros.
*O nome de Antonieta de Barros foi indicado para o Livro Heróis e Heroínas da Pátria em 2021.
*O principal auditório da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina foi batizado com o nome de Antonieta de Barros.
*Antonieta de Barros recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Pra ver de perto
Confira o painel em homenagem à Antonieta de Barros, com 32 metros de altura por 9 de largura, pintado pelos artistas Thiago Valdi, Tuane Ferreira e Gugie, na Rua Tenente Silveira, no Centro de Florianópolis.
Ficha técnica:
- Roteiro e apresentação: Lúcia Tulchinski
- Identidade visual: Cris Pagnoncelli
- Identidade sonora: Lucas Panisson
- Edição e sound design: Gustavo Slomp
- Gerenciamento do projeto e comunicação: Kelly Gequelim
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